
O Porto de Camilo Castelo Branco: A cidade onde viveu e agora repousa
17/03/2025Embora não tenha nascido no Porto, Camilo Castelo Branco viveu na cidade momentos decisivos da sua vida, o que o levou a expressar, por escrito, o desejo de ser sepultado no Cemitério da Lapa. Este domingo, 16 de março, assinalam-se 200 anos do nascimento do romancista, cujo legado está profundamente ligado à Invicta, com mais de 260 obras publicadas e inúmeras peripécias na sua vida pessoal.
Escritor, romancista, poeta, cronista, crítico, dramaturgo, historiador e tradutor, Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco nasceu a 16 de março de 1825, em Lisboa. A sua ligação ao Porto iniciou-se em 1843, quando escolheu a cidade para estudar Medicina, mas o percurso académico rapidamente deu lugar a uma vida boémia, permitindo-lhe experienciar a cidade de uma forma intensa.
Frequentador assíduo da Biblioteca Pública Municipal do Porto, onde passava horas a ler, e do Teatro Nacional São João, onde assistia a espetáculos, Camilo também conheceu o lado mais sombrio da cidade ao cumprir um ano de prisão na antiga Cadeia da Relação, hoje Centro Português de Fotografia. Estes locais fazem atualmente parte das Rotas do Escritor.
Após a morte da sua primeira mulher, Joaquina Pereira de França, Camilo fixou-se definitivamente no Porto em 1848, dois anos depois de ter sido preso por raptar um dos seus amores, Patrícia Emília de Barros. Entre 1849 e 1851, consolidou a sua atividade jornalística, voltou ao teatro e integrou-se na alta sociedade portuense, enquanto vivia intensamente a sua conturbada vida amorosa. A sua relação mais célebre foi com Ana Plácido, jovem noiva de um abastado comerciante portuense. O romance levou-os a fugir, mas ambos acabaram presos durante um ano, até serem absolvidos.
Além dos amores e das letras, Camilo construiu grandes amizades no Porto. Uma das mais marcantes foi com João António de Freitas Fortuna, proprietário de uma tipografia na Rua das Flores, onde foram impressas várias das suas obras. Essa relação de confiança fez com que, em 1888, o escritor lhe endereçasse um pedido muito especial:
“Meu querido amigo. Revalido, por esta carta, o que lhe propus com referência ao meu cadáver e ao seu jazigo no Cemitério da Lapa. Desejo ser ali sepultado e que nenhuma força ou consideração o demova de me conservar as cinzas perpetuamente em sua capela.”
Dois anos depois, em junho de 1890, Camilo Castelo Branco suicidou-se e foi sepultado no jazigo da família de João António de Freitas Fortuna, no Cemitério da Lapa. Ainda hoje, o local atrai inúmeros visitantes, sendo um dos pontos de interesse do mais antigo cemitério romântico de Portugal, onde também repousam figuras notáveis da história portuense, como José Ferreira Borges.
Para assinalar os 200 anos do nascimento de Camilo Castelo Branco, o Município do Porto lançou um programa cultural que se prolongará até 2026, promovendo diversas iniciativas para celebrar a vida e obra do escritor que deixou uma marca incontornável na literatura portuguesa.
Foto: DR – Andreia Merca
Notícia desenvolvida por: Bruna Rebelo