
Ex-adjunto do ministro das Infraestruturas, chefe de gabinete de Galamba e ministro foram ouvidos pela Comissão de Inquérito à TAP
19/05/2023O ministro das Infraestruturas, João Galamba, disse esta noite ter informação de que a TAP já apurou o montante a devolver pela ex-administradora Alexandra Reis e que vai proceder à recuperação desse valor.
Esta foi uma das maiores novidades das mais de seis horas de questões respondidas pelo ministro das Infraestruturas no Parlamento, na comissão de inquérito à TAP.
“A devolução da indemnização está a ser tratada, há algumas dúvidas processuais […]. A informação que eu tenho é que a TAP já consolidou a sua interpretação e, portanto, já tem apurado o montante exato e que vai proceder a essa recuperação”, afirmou o ministro, na comissão de inquérito à companhia aérea, quando questionado pelo deputado Bernardo Blanco, da IL, sobre em que ponto se encontra a devolução da indemnização paga a Alexandra Reis.
De resto, toda a audição centrou-se muito nos acontecimentos no ministério que levaram à demissão do adjunto Frederico Pinheiro. A maioria dos partidos da oposição tentaram estabelecer definitivamente uma “linha do tempo” dos acontecimentos, em especial dos contactos do ministro e da sua chefe de gabinete para as autoridades — com relevo para a intervenção do SIS.
Galamba não respondeu aos acontecimentos ocorridos no ministério, escusando-se com o facto de não os ter presenciado. Quanto às chamadas telefónicas que fez, entre elas para o secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro que, segundo lhe disse, o aconselhou a contactar o SIS no caso do computador, a sequência das mesmas não ficou esclarecida de forma a satisfazer todos os deputados.
Para Galamba, os acontecimentos no ministério estão encerrados: “Não vou abrir nenhum inquérito. Quem tinha de ser exonerado já foi”. E a sua capacidade de exercício de funções, como afirmou, não se encontra minimamente beliscada.
Foram várias as contradições entre as versões apresentadas nas audições ao ex-adjunto do ministro das Infraestruturas, Frederico Pinheiro, da chefe de gabinete de João Galamba, Eugénia Correia, e do Ministro das Infraestruturas, João Galamba, que foram ouvidos pela Comissão de Inquérito à TAP.V
Veja as contradições:
Ameaças e sequestro
Frederico Pinheiro, ex-adjunto de João Galamba
“Fui eu que chamei a polícia para sair do edifício em que me tinham sequestrado”
“Não roubei, furtei ou fugi com o computador que me foi adstrito pelo Ministério das Infraestruturas”
Galamba acusado de esconder verdade sobre a TAP ao parlamento“Não agredi ninguém, apenas me libertei em legítima defesa de quatro pessoas”
Eugénia Correia, chefe de gabinete de João Galamba
“Acusação de sequestro não faz sentido. (…) Estava em curso um crime (de roubo)”
“Perante um roubo [computador], o que se tenta fazer é impedir que a pessoa concretize o ato”
“Frederico Pinheiro dá-me um murro. A Dra. Paula Lagarto levou vários murros”
João Galamba, ministro das Infraestruturas
“Não faço a mais pequena ideia de quem chamou o SIS. Eu estava em casa”
“Eu apenas recebi um telefonema. Não sou testemunha. Perante um roubo é natural que se chame a PSP”
“É um telefonema de uma pessoa que estava desesperada, porque levou pancada”
Telefone e notas
Frederico Pinheiro, ex-adjunto de João Galamba
“Foi apagado todo o registo que tinha no meu telemóvel, documentos e conversas”
“Em momento algum me foram solicitadas as notas, sendo certo que sabiam da sua existência”
“O ministro ameaçou-me. Disse: ‘Se estivesse ao pé de ti, dava-te dois socos’”
Eugénia Correia, chefe de gabinete de João Galamba
“Ninguém lhe mexeu no telemóvel, mas se tivesse mexido podia, porque não é dele”
“Não houve qualquer intenção de omitir as notas. Até 24 de abril não sabia que existiam, nem o ministro”
“Ouvi o senhor ministro a falar tranquilamente com o doutor Frederico Pinheiro”
João Galamba, ministro das Infraestruturas
“Nunca acedemos ao computador. Ele está na PJ, que vai fazer peritagens”
“O meu gabinete tudo fez para entregar tudo. Há testemunhas. E não trabalham todas no meu gabinete”
“Nego categoricamente ter ameaçado, mas afirmo que fui ameaçado por ele”
Riscos
Frederico Pinheiro, ex-adjunto de João Galamba
“Queriam o computador porque era onde estavam as notas”
“Ativação de meios do Estado, como o SIS,foi desproporcionada e acima de tudo ineficaz”
Eugénia Correia, chefe de gabinete de João Galamba
“Nunca pretendemos esconder as notas à comissão”
“Recebo instruções e indicações de como proceder em situações de potencial, eventual risco”
João Galamba, ministro das Infraestruturas
“O que raio terá aquele computador? Coisas pessoais não serão”
“Não há uma única testemunha de Frederico Pinheiro nem factos que o comprovem”