Teatro do Bolhão leva 334 atores e figurantes a espetáculo comunitário em Vale de Cambra

Teatro do Bolhão leva 334 atores e figurantes a espetáculo comunitário em Vale de Cambra

19/09/2025 0 Por Rmetropolitana

O Teatro do Bolhão apresenta esta sexta-feira e sábado, em Vale de Cambra, o espetáculo “Palcos do Mundo – Fábrica”, uma produção inédita que junta 334 atores e figurantes, entre os quais 50 imigrantes, na antiga fábrica de laticínios Martins & Rebello. O projeto aborda temas como guerra, miséria e solidariedade, através de uma criação artística de forte envolvimento comunitário.

Concebida por encomenda da ADRIMAG – Associação de Desenvolvimento Rural Integrado das Serras de Montemuro, Arada e Gralheira, a iniciativa conta também com o apoio da autarquia local e dos municípios de Arouca e Castelo de Paiva, integrando o distrito de Aveiro e a Área Metropolitana do Porto.

Segundo João Carlos Pinto, coordenador executivo da ADRIMAG, a produção foi inspirada na frase do Papa Francisco “Somos todos imigrantes. Ninguém tem morada fixa nesta terra”. O objetivo é integrar a comunidade migrante através das artes performativas, promovendo união, acolhimento e partilha cultural.

“É um momento feito com e para a comunidade, que honra a memória coletiva e, ao mesmo tempo, acolhe quem chega de fora e escolhe os nossos territórios para viver”, sublinha João Carlos Pinto.

A direção artística é do encenador e ator Miguel Hernandez, que desde abril orienta o trabalho da vasta equipa – composta por 81 atores profissionais, 253 amadores e 37 técnicos. Para o responsável, a dimensão do projeto foi “exigente”, mas também transformadora.

“O espetáculo inspira-se nos profundos desafios ligados à imigração e aos milhares de refugiados que marcam o mundo atual”, explica Hernandez, defendendo que a aproximação entre culturas pode despertar “consciência, compreensão e entendimento entre os povos”.

Entre os participantes destaca-se Mehreen Yasir, imigrante paquistanesa que protagoniza um monólogo. Reconhece que o projeto lhe deu novo ânimo, ao mesmo tempo que expôs as dificuldades que enfrenta em Vale de Cambra, desde a falta de escolas de português para estrangeiros até aos custos elevados dos transportes.

“Foi muito bom conhecer toda a gente, são todos muito simpáticos e, pelo menos, temos um local onde podemos defender os nossos direitos. Caso contrário, parece que os imigrantes não são humanos nem existem”, afirmou.

Nos dois dias de espetáculo, as portas abrem às 18h30, convidando o público a uma experiência cultural alargada, com gastronomia internacional e uma exposição sobre imigração, incluindo depoimentos de imigrantes.