Porto: Mercado de S. Sebastião será demolido em maio e dará lugar a projeto de Siza Vieira

O Mercado de S. Sebastião, localizado junto à Sé do Porto, começará a ser demolido já no próximo mês de maio, confirmou a Câmara Municipal do Porto em resposta ao Porto Canal. No local da estrutura brutalista será instalado um arranjo paisagístico provisório, ajustado ao futuro projeto de loteamento da Avenida da Ponte, recentemente encomendado ao arquiteto Álvaro Siza Vieira.

A apresentação pública deste novo projeto está prevista para junho, altura em que o primeiro português distinguido com o Prémio Pritzker revelará o plano urbanístico destinado a uma das zonas mais sensíveis e históricas da cidade. O contrato, no valor de 300 mil euros (acrescido de IVA), inclui não só a elaboração do projeto de loteamento, mas também os respetivos projetos de especialidades, segundo dados disponíveis no portal da contratação pública.

Uma “ferida urbana” à espera de solução

A chamada Avenida da Ponte é há décadas considerada uma das “feridas urbanas” mais visíveis do Porto. As primeiras demolições naquela área datam do final da década de 1930, promovidas pela Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN). Nos anos 1940, novas intervenções foram realizadas para abrir a atual Avenida Dom Afonso Henriques, criando um vazio urbano entre a Sé e a zona de São Bento, que nunca foi devidamente preenchido.

Vários arquitetos apresentaram propostas ao longo dos anos, incluindo Fernando Távora e o próprio Álvaro Siza, que desenhou planos para o local em 1968 e novamente em 2000, no contexto do Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura. No entanto, nenhum desses projetos avançou.

Um mercado com história

O Mercado de S. Sebastião foi projetado em 1986 pelo arquiteto António Moura e sofreu uma intervenção significativa em 1995, que lhe conferiu a atual estrutura de betão, marcada por formas piramidais. Mas a história do mercado remonta muito mais longe: é herdeiro direto do antigo Mercado de Levante da Rua Escura, um dos mais antigos centros de comércio da cidade.

Este mercado ambulante, que ladeava a Sé e se estendia pelas ruas Escura e de S. Sebastião, foi encerrado nos anos 1980 pelo Comissariado para a Renovação Urbana da Área de Ribeira/Barredo (CRUARB), que apontava problemas de ordem higiénica, obstrução ao trânsito e a necessidade de valorização da zona histórica. Foi então lançado um concurso para construção de uma infraestrutura fixa, resultando no edifício agora prestes a ser demolido.

Antes do encerramento definitivo do mercado, em 2023, apenas cinco comerciantes ainda ocupavam o espaço – um número bem distante dos mais de cem vendedores ativos na década de 1980, conforme registos do Arquivo Histórico Municipal do Porto.

Futuro a ser redesenhado

A reconversão desta zona central do Porto — com vista privilegiada sobre a cidade e junto a monumentos emblemáticos — promete reabrir o debate sobre o equilíbrio entre preservação histórica, valorização patrimonial e reabilitação urbana. Com Álvaro Siza a liderar o novo plano, a cidade volta a colocar nas mãos da arquitetura a responsabilidade de transformar um vazio em algo memorável.

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