Luísa Salgueiro lamenta saída da presidência da ANMP sem aprovação da nova Lei das Finanças Locais

Luísa Salgueiro lamenta saída da presidência da ANMP sem aprovação da nova Lei das Finanças Locais

06/12/2025 0 Por Angelo Manuel Monteiro

A presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), Luísa Salgueiro, lamentou este sábado terminar o mandato sem ver aprovada a nova Lei das Finanças Locais, um diploma há muito reivindicado pelas autarquias.

“Deixei muitas coisas por fazer, designadamente o equilíbrio da descentralização. O que mais lamento é não ter prosseguido no processo de acompanhamento, porque sei que muitos autarcas acabam por estar descontentes com as competências que receberam devido a um desequilíbrio orçamental que nunca foi corrigido”, afirmou a autarca socialista e presidente da Câmara de Matosinhos, uma semana antes do congresso da ANMP.

Eleita em 2021, Salgueiro tornou-se a primeira mulher a liderar a associação, cargo que vai agora deixar no congresso eletivo de 13 e 14 de dezembro, em Viana do Castelo, depois de o PSD ter vencido o maior número de câmaras nas eleições autárquicas de outubro, recuperando a liderança da ANMP que pertencia ao PS desde 2013.

Segundo Luísa Salgueiro, a disparidade entre municípios é grande e uma das causas está na Lei das Finanças Locais. Apesar de consensualizada com todos os governos no último mandato, o grupo de trabalho responsável pela sua aprovação ainda não foi constituído. “Há dois anos que estamos à espera da constituição do grupo de trabalho”, sublinhou.

A nova lei pretende trazer estabilidade e previsibilidade às receitas municipais, aumentar a participação dos municípios nos impostos do Estado e atualizar os critérios de distribuição de recursos, indo além dos tradicionais, como número de habitantes ou área. “Existem municípios pequenos que contribuem significativamente para a coesão nacional, e isso deve ser tido em conta”, explicou.

Atualmente, e por proposta da ANMP, “os municípios maiores abdicam de receitas a que teriam direito para redistribuir pelos mais pequenos”, criando uma espécie de vácuo de solidariedade entre autarquias, enquanto se aguarda a implementação formal da lei.

Salgueiro destacou ainda os desafios da descentralização, sobretudo na área da saúde, onde considera que a primeira etapa do processo ficou desiquilibrada. Das três áreas — ação social, educação e saúde —, esta última foi a mais atrasada, não cumprindo os critérios previstos, como a distribuição de assistentes operacionais e viaturas, bem como o mapeamento dos equipamentos de saúde.

“Tenho colegas que dão conta que o equilíbrio orçamental não se verifica e que estão a suportar custos que decorrem da descentralização, o que não deveria acontecer”, frisou.

O congresso da ANMP servirá agora para eleger o novo presidente, com o presidente da Câmara do Pombal, Pedro Pimpão, já a manifestar disponibilidade para o cargo.

A saída de Luísa Salgueiro marca o fim de um mandato histórico, com avanços na descentralização e na solidariedade entre municípios, mas também com metas importantes, como a nova Lei das Finanças Locais, que permanecem por concretizar.

Foto: CM Matosinhos