Álvaro Domingues apresenta mostra inédita em São João da Madeira sobre paisagem e “cacofonia do mundo”
21/11/2025O geógrafo e fotógrafo Álvaro Domingues inaugura este sábado, no Centro de Arte de São João da Madeira, uma mostra inédita que analisa “a cacofonia do mundo” através de imagens que revelam os efeitos da ação humana na paisagem e na memória coletiva.
A exposição, patente na galeria instalada no complexo da Oliva Creative Factory, reúne fotografias recentes captadas em diferentes territórios de Portugal, Espanha, Brasil e México. O autor — também professor na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto — apresenta um olhar atento sobre permanências, ruturas e marcas deixadas pelo tempo e pelas escolhas humanas.
Sob o título “Todo o mundo é composto de mudança”, a mostra propõe, segundo Aníbal Lemos, diretor do Centro de Arte e cocurador, “uma leitura que ultrapassa a mera contemplação estética”, convidando o público a interpretar o espaço e a compreender a paisagem enquanto construção social.
“As fotografias constituem narrações espaciais”, sublinha. “Apontam para a transformação dos territórios, destacando permanências e ruturas, e instalam perguntas sobre modos de habitar, pertencer e transformar”.
Álvaro Domingues admite que a diversidade dos cenários foi um desafio: “Não é fácil alinhar um fio condutor entre uma cabra que nos observa desde os altos da serra do Alvão e as paisagens duras da urbanização no México ou no Brasil, onde a opulência de uns tantos convive com a escassez da maioria”. Ainda assim, considera que essa heterogeneidade é precisamente o que dá sentido ao conjunto: “A dissonância, a simultaneidade, a contradição — tudo isso faz parte da cacofonia do mundo, definitivamente desarrumado, inquieto, injusto”.
Para o curador Nelson Marmelo, que assina a seleção dos trabalhos juntamente com Aníbal Lemos, Domingues olha a paisagem “não como cenário, mas como processo”, desconstruindo a visão romântica tradicional. “O território surge como resultado de decisões humanas, improvisações e acasos. A paisagem é obra em transformação permanente”, destaca. Dos campos aos bairros de lata, dos muros às autoestradas, as imagens revelam “formas visíveis e sensíveis que traduzem cultura”.
Diretor da Bienal de Fotografia da Covilhã, Marmelo elogia ainda o “humor crítico e despretensioso” do autor, que ajuda a envolver o público numa experiência mais participativa, sem perder a profundidade da reflexão social.
A exposição “Todo o mundo é composto de mudança” tem entrada livre e ficará patente até 10 de janeiro. A inauguração está marcada para sábado, às 16h30, com a presença de Álvaro Domingues para uma conversa com o público.
Foto: CM São João da Madeira



